terça-feira, 25 de agosto de 2009

Sapatos velhos...


Como toda mulher, eu tenho muitos sapatos. Porém eu não sou como todas as mulheres...

Sem querer se melhor do que ninguém é que eu digo isto.

Explico. É que eu tenho um probleminha sério, na minha opinião. Meus pés são grandes, tenho joanetes, a frente deles é larga e o calcanhar é estreito.

Resultado: Sempre tenho de comprar sapatos um número maior do que o que eu realmente calço, porque, via de regra, meus pés ficam machucados com sapatos novos.

Só que há um problema maior ainda. Não faz a menor diferença se eles são do tamanho certo ou maiores. Eles me machucarão de qualquer jeito. E o efeito disto são pés calejadinhos...

Costumo dizer que meus pés parecem pães de queijo: Branquinhos e gordinhos.

Bom, eu dizia mais acima que não sou como todas as mulheres. É que meus sapatos são quase todos velhos. Então, na verdade, eu tenho muitos sapatos porque eu guardo aqueles que são confortáveis como tesouros.

Mas, eu confesso que eu acabo por me torturar de vez em quando.

Certa vez eu passei em frente a uma loja e eu me apaixonei por uma sandália. Eu passava por lá quase todos os dias para namorá-la. Na época eu ganhava pouquinho, e meu dinheiro era quase todo para ajudar a pagar a minha faculdade. E eu juntei dinheiro por mais de 3 meses para poder comprá-la.

Quando eu atingi a quantia necessária fui até a loja e não tive dúvidas: Quero aquela sandália!

Ela não tinha nada de especial. Era preta, com duas tiras de couro grossas que se cruzavam na frente. Fiquei tão feliz que eu saí da loja calçada. Só que quando eu dei o primeiro passo... Aiai!!!

Aquelas lindas tiras cruzadas mais pareciam tesouras que cortavam o dorso do meus pés, beliscando-os de modo irritante. No terceiro passo, deixou de ser irritante para ser quase insuportável.

Aquela alegria toda transformou-se em uma decepção sem fim. Voltei à loja desesperada. E a alternativa que me deram foi: Deixá-lo na loja para usarem aquelas formas ajustáveis para que o couro cedesse. Duas semanas!!!

Eu? Duas semanas sem meus calçados novos???????????? Nem pensar!!!

Resoluta, fui a uma farmácia e comprei esparadrapos. Coloquei-os puros sobre os meus pés e fui que fui para o trabalho...

Gente, o negócio foi descolando, e aquela colinha que ficou, foi piorando a coisa... Quando eu cheguei em casa, meus dois pés estavam em petição de misericórdia.

Pensei em desistir das minhas sandálias, mas eu pensei: Que desaforo! Gastei uma grana suada para essa porcaria me vencer? De jeito nenhum!!!

No outro dia encharquei meus pés de creme hidratante. Bom... Aliviou a coisa, porque aí a sandália deslizava e não colava. Mas, continuou a pinçar a pele... Aquela parte gordinha do meu "pezinho"...

Então acabei por achar uma solução. Comprei micropore que não é tão grosso quanto o esparadrapo e adere muito bem à pele, e faz com que só pareça que a pele é um pouco mais grossinha. E passava, por cima e em todo o restante dos pés, bastante creme hidratante.

Nem sei dizer quanto tempo passou, mas aquela sandália é espetacularmente a mais macia que eu possuo até hoje. E ela já dura quase 10 anos. Ano que vem ela aniversaria!!! Hehehehe!!!

Fico pensando na vida, como sempre. Lógico que é necessário muitas vezes nos desfazermos daquilo que é incômodo. Óbvio.

Porém, há sentimentos que é melhor suportar por um tempo até que um dia, você nem se dá conta, nem percebe mais que aquilo lhe incomoda.

Eu tenho adotado esta tática muitas vezes. Não costumo deixar os traumas me vencerem. Eles sempre tentam. Daí eu penso: Que desaforo! Cheguei até aqui. A vida me trouxe por esses caminhos. Agora eu caí. Vai sonhando que essa dorzinha aqui vai me deixar inválida, vai! Sonha!

E eu continuo a caminhar. Ainda que mancando. Não admito parar. Só um pouco. O tempo necessário para que doa menos.

Uma das experiências mais marcantes que tive neste sentido foi quando meu pai adoeceu seriamente.

Ele foi vítima, ao meu ver, de uma barbeiragem médica sem precedentes. E acabou tendo de fazer, ao todo, 6 cirurgias decorrentes de vários procedimentos errados.

Só que no dia em que ele fez a mais séria eu o deixei deitado e eu tive a sensação de que não veria mais o meu pai e de que algo mais sério acontecia, além daquilo que nos contavam. Eu fui para casa ouvindo um dos meus cantores favoritos, o Alessandro Safina. Quando minha mãe me deixou na portaria do prédio onde eu morava e eu dei as costas para ela, eu não consegui parar de chorar. Isto foi umas 11h da manhã. E meu pai saiu da sala de cirurgia direto para a UTI às 22h30. Foi quando eu consegui parar.

O fato é que todas as vezes em que tentei ouvir o CD novamente eu tinha vontade de quebrá-lo, tamanha era a dor que eu sentia no coração. Eu me lembrava daquela sensação horrível de que iria perder meu pai. Foi um dos dias mais tristes da minha vida. Houve outros mais tristes ainda, e um último episódio foi o pior deles. Era um dia nublado e frio como o de hoje.

Fechei uma porta atrás de mim, e foi a dor mais profunda que já senti na vida. Mais uma sandália de tiras cruzadas na frente acontecendo.

Quanto ao CD, eu me recusei a continuar sentindo aquilo, já que é motivo de deleite para mim saber que tenho meu pai amado. Que ele está aqui, e está bem. E eu ouvia todos os dias, todas as horas, até que um dia eu me peguei cantando "You Come To My Senses", que é a música que eu mais amo na vida, alegremente!

Hoje continua a ser um dos CDs de que mais gosto.

Mas, os dias nublados e tristes eu não posso pegar ali na prateleira para que todos os dias do ano, até que eu me acostume a eles novamente, eles aconteçam. Eles acontecem quando querem. Será mais difícil. Mas, como eu tenho a vida inteira para que esse trauma passe - e ele vai passar -, eu curtirei os dias desse tipo. Até que eu volte a me alegrar com eles, como sempre foi.

Ontem foi um dia assim também. O de hoje está melhor que o de ontem. Pelo menos eu estou menos melancólica, com menos medo, e com mais disposição.

Sapatos velhos são tudo de bom. Mas, a sensação de comprar um novo E confortável... Ainda não inventaram nada igual. Não achei ainda não, mas eu tenho certeza de que acharei um que não me machuque...

Beijos e abraços novos e confortáveis a todos!!!

11 comentários:

Anônimo disse...

oi :)
só queria dizer que o desenrolar da história foi facinante, quase me perdi entre os dois assuntos, mas o final da história me fez sentir confortada, diferentes dos calçados agora, mas futuramente quem sabe...

bjos!

Elisa Avelar disse...

Olá querida,
Às vezes, mesmo sabendo que temos nossas sandálias confortáveis, preferimos adentrar em um mundo novo e, experimentar um sapatinho que, certamente vai nos machucar. Mas mesmo assim os calçamos, andamos e, depois, claudicante, andamos mais devagar, devagar até... parar. E nesse momento, o de paradas, de calmaria, podemos refletir um pouco... se realmente vale a pena esse sapatinho novo.
mas se ficarmos presas a sandalinha antiga, sempre, como vamos saber? Afinal, ela mesma, aquela deliciosa e confortável sandalinha, já não nos machucou um dia?
Essa semana foi muito frustrante para mim. Tive que enfrentar diagnósticos que recusava ouvir. Palavras que ecoam ainda em minha mente. Mas preciso largar a sandalinha velha e aceitar novas posturas, novos rumos. E saber, acreditar, que o Senhor está no controle de minha vida, Ele está no comando, aliás, de nossas vidas. Minha e de minha família.
Um beijo querida, fique com Jesus.
E ah, quanto ao seu novo emprego, um sapatinho novo, vc vai gostar dele. E se porventura não gostar, a vida é curta, né? Parta para otro. Fica mais leve encarar assim.

Anônimo disse...

Amada, eu não quero torturá-la, estava falando do seu trabalho novo!!! hehehe. Tomara que nesse você possa usar seus dons.

Gaby Avelar disse...

Oi, gente!!! Quantas visitas no almoço!!! Coisa boa!!!
Sapatos... A vida é assim. Alguns valem a pena. Outros, muito mais bonitos até, eu já tive de deixar de lado, dar...
Mas, alguns são tão especiais. Mesmo que encontremos o seu substituto, certamente nos lembraremos do outro.
Mas, é isso aí. Tudo tem seu tempo e sua hora. E a vida vai continuando. Claro que não convém perder tempo. Mas, muitas vezes o ganhamos também ao tentar.
Posso dizer que tentei muitas vezes na vida. Em algumas vezes eu persisti. E, ainda assim, não deu certo. Noutras, eu mal tentei. E não me arrempendo. E ainda em outras tantas eu pensei que poderia ter tentado um pouco mais.
E há as tentativas dolorosas que valeram - e muito - a pena.
Mudando de assunto:
Amado(a)... Obrigada por se explicar... É que são pessoas distintas falando de coisas distintas, mas a identidade é igualmente oculta!!! Hehehehe!!! Daí eu acabo me perdendo... Hehehehehe!!!
Fica bravo(a), não quando eu confundir vocês... Releve. É muita coisa para a minha cabeça.
Grandes são as minhas espectativas e minha alegria também.
Vamos lá!!! A vida é feita de surpresas. Como diria meu bom e amado Guimarães Rosa, "viver é muito perigoso, porque ainda não se sabe"...
Beijos, visitantes ilustres!!!

Adriana Polo. disse...

Gabi,vc sempre linda e extremamente talentosa! Não tenha medo de experimentar "novos sapatos" meu anjo...No começo eles parecem duros,mas logo vão se moldando,tomando forma,fazendo de seu pé uma nova e bonita casa.Basta dar tempo minha querida...os calos que por ventura virem serão o seu troféu.Um troféu de vencedora,que mesmo com a dor,não abriu mão das coisas belas.Beijocas

Gaby Avelar disse...

Então, Adri...
Em primeiro lugar, obrigada, mais uma vez, pela visita... Amo suas visitas!
Espero por elas assim, como uma vizinha espera pela visita daquela outra que todos os dias inventa um motivo para ir lá em casa, sabe como é? Bem na hora do cafezinho recém-passado... Então, essa hora acaba ficando com cheiro de café com o cheirinho da vizinha também...
Bom, resumindo: Sua visita já me é muito familiar...
Quanto aos sapatos... À procura, amiga... Mas, sabe? Ando mesmo é com vontade de ficar descalça. Assim, desse jeito como estou agora.
Beijo enorme!

Adriana Polo. disse...

Minha querida,seus pezinhos são o seu leme.Siga-os e respeite suas vontades sempre! Vc merece tudo de bom nessa vida!Tb adoro suas visitas,pois alguém com esse seu coração faz meu dia mais feliz! Beijocas

Elisa Avelar disse...

Oi querida,
Estou com saudades.
Sentindo a sua falta.
Beijos,

Gaby Avelar disse...

Também, Linda Elisa...
Mas, estou de volta!
Logo eu pego meu selinho, tá?
Beijo!!!

Cláudia Paulino disse...

Gabrielle, inicialmente quero dizer que você é LINDA !!! Que rosto lindo, menina !!! Depois preciso dizer que adorei tudo isso que vc escreveu sobre sapatos, pés, calos, dores... é que estou passando por algo um pouco diferente, porém também incômodo.... meus pés cresceram !!! Depois que tive meu filhote não consigo mais usar os meus lindos sapatinhos número 34 !!!
Amanhã vou falar disso lá no blog, preciso de sapatos novos e de coragem pra me disfazer dos antigos (não são velhos, são lindos e novinhos...).
Oh, adorei te conhecer, sempre lia seus comentários nos blogs daas meninas, mas não tinha passado aqui.
Depois vai lá me conhecer também !!!
Beijos lindinha !!!

Gaby Avelar disse...

Ah, Cláudia... Sou leitora assídua do Fufuquices, querida!!! hehehehe!!!
Fico muito honrada com sua visita!!!
Obrigadíssima pelos elogios!!!
Coragem, Cláudia... Desfaça-se dos seus... Tenha certeza de que valerá a pena!
Se seu pezinho voltar ao tamanho 34, você compra outros e outros e outros... Mais bonitos ainda!
Beijo, fofa!!!

"Eu sou o mesmo livro, podes ler"...

Mudou – Taiguara “Mudou! Mudou o tempo e o que eu sonhei pra nós Mudou a Vida, o vento e a minha voz, Mudou a rua em que eu te conheci. ...