terça-feira, 18 de agosto de 2020

Medieval

   
Quando eu estava na faculdade, eu iniciei meu processo de Monografia  com um projeto. 
    Ele era na área de Literatura Portuguesa e eu amava o tema: "O Amor Cortês Como Construto Social e Histórico".
    Fiz o projeto e tirei nota máxima!
    Mas, Gabizinha, o que quer dizer todo esse palavrório aí? 
    Bom, quer dizer que o tal do Amor Cortês historicamente construiu nossas relações sociais. Só isso? 
    Então, seria SÓ isso se esse tal conceito não tivesse invadido as nossas vidas desde o século XII.            Alguns estudiosos, entretanto, acreditam que ele é advindo dos primórdios do cristianismo, quando a palavra Amor em seus muitos sentidos, passou a ser utilizada para marcar as nossas relações em todos os âmbitos.
    Daí para cá, tudo para a gente precisa gerar esse sentimento. Inclusive, a indústria da publicidade se vale desse artifício para nos fazer comprar coisas e sustentar toda uma cadeia. Temos de ser seduzidos! E nem nos damos conta disso.
    Temos a constante sensação de que devemos sempre estar enamorados. E isso se reflete nas amizades, nas relações profissionais, nas relações parentais, nas relações matrimoniais, nas relações empresariais, nas relações trabalhistas, nas relações comerciais etc.
    Precisamos sempre nos sentir queridos ou precisamos nos sentir apaixonados, querendo algo ou alguém, razão pela qual temos esse impulso de querer sempre estar próximos daqueles que dizemos ou pensamos amar, como se somente a proximidade fosse amor.
    Gente, a coisa é tão séria que até os gatos pagam por isso, acredita?
    "Ah! Gato não ama! Cachorro, sim! Cachorro, quando a gente chega, abana o rabinho, pula, quer sempre ficar agarradinho. Você briga com ele e ele vem logo atrás de você, como se nada tivesse acontecido. Gato, não! Gato só gosta da casa. Só vem pra perto de você quando quer comida"... E por aí vai!
    Eu nunca entendi por que as pessoas precisam tanto de provas de que são amadas, como se todos tivessem de ter a mesma atitude de um cão. Querem que todos e todas estejam à sua mercê como se não fossem pessoas diferentes, com vivências diferentes, com sentimentos diferentes e, principalmente MODOS DE SER E DE AMAR DIFERENTES!
    Sim, caríssimos! O Amor Cortês é bom... Mas, ele também pode ser uma desgraça.
    Oi? Siiiiiiiiim! Pode. Essa cobrança excessiva, essa vontade de sentir o coração pulsando forte o tempo todo, esse encantamento é maravilhoso. Essa sensação de que o ser amado é a coisa mais importante da face da Terra, de que a vida é muito mais colorida com ele é tão belo! É lindo se sentir amado. É lindo se sentir querido, valorizado, como se você fosse o diamante mais raro do universo! 
    Mesmo sem tudo isso, quem disse mesmo que não é? Quem disse que não somos únicos?
    Pois, voltando ao meu projeto de monografia que jamais virou monografia, eu ia analisar uma Cantiga de Amor de Dom Diniz, um rei de Portugal que, além de mega poderoso, também era um trovador. Ops! Não, um poeta!!! Porque os trovadores, para quem não sabe, passavam de cidade em cidade cantando suas trovas e levando a história por meio da música em forma de poesia.
    Sim! O trovadorismo foi a primeira onda de sofrência de que se tem notícia, meus caros!!!
    E  aí, meu objeto real de estudo seria a música linda de Pixinguinha, A Rosa! 
    Ah!!! Une duas das coisas que mais amo na vida: Uma rosa e um amor sem precedentes.
    Coloca sua dama sobre um altar onde ambos - ele e sua amada - seriam sacrificados em nome do amor, e viveriam somente para si eternamente apaixonados... Vai vendo!
    Para quem também não sabe, os trovadores eram somente homens... E muitas das cantigas tinham como Eu Lírico (eita ensino médio bom, hein? Sei que você se lembra o que é isso) feminino. E a mulher sofria esperando seu amado, que um dia a viu de longe e por quem ela muito se enamorou, que foi embora deixando-a sozinha à sua espera e ela pranteava à beira dos rios, mares e florestas a dor da espera por seu amado. 
    Epa! Que fique  bem claro que ele foi embora para lutar em uma guerra ou coisa parecida, hein?
    As Cantigas de Amor, por sua vez, têm o Eu Lírico masculino e é sempre um homem humilde que se enamora de uma cortesã e seu amor é impossível de ser consumado, pois ela é sempre linda, sempre moooooooito rica, sempre delicada como uma porcelana, sempre lá na sua torre. Ele é tão pobre e tão humilde, ele a quer, ele a deseja, mas ela é quase uma santa e ele jamais seria digno de tocá-la. Ai, ai! (suspiros)...
    Gente, tudo isso para dizer que, se você ler qualquer letra de música hoje que fale de amor, se você ler qualquer livro sobre uma história de amor - ainda que seja o 50 Tons de Cinza -, se você ler todas as histórias passadas do meu Blog, se você ler uma bula de remédio, é bem capaz de você enxergar esse ideal do Amor Cortês passando em alguma linha.
    É sério! Procura que você acha.
    Então, vamos ao que interessa... 
    Viajando pelas ondas do mar do Instagram, eis que eu ouço uma linda melodia. Que saiu assim, do coração de alguém como se fosse uma brisa calma. E eu me lembrei de tudo isso aí. E me vieram as palavras, assim, como uma água que sobe à fonte e eu acabei compondo essa trovinha aí embaixo...
    Coisa simples de quem brinca com as palavras para fazer brotar algo tão fofo e bonitinho.
    Apesar de ter toda essa consciência aí de que somos meio que "manipulados" por mecanismos tão antigos que sequer conhecemos, eu gosto muito do amor cortês. E já até tive a honra de sofrer desse mal, porque quem dele não sofre nunca viveu!
    E aí, eu escrevi esse medievalismo tolo. E imaginei uma menina que está descobrindo o amor. Pensei naquelas damas tão lindas e fofas descritas nas trovas medievais de Portugal e nos pobres rapazes que as olhavam de longe, desejando um dia só serem tocados por aquelas mãozinhas que nunca viram trabalho pesado. Pensando nelas também, presas em sua condição de mulher, sem ter escolha de nada, sequer de poder ler e conhecer as trova para elas compostas. E foi então que saiu do meu coração uma trova Medieval.
    E está ela aqui, com vocês... Modestamente!

Medieval

Vem, vem brincar!
Vem brincar 
Na minha janela,
Vem brincar!

Me fazer assim tão bela, 
Vem brincar!
E dizer meu nome, "Belle"!
Vem me amar

Me dizer as trovas belas,
Vem me amar
Ser meu cavaleiro
Amado, me chamar

Pra dizer o quanto espera 
Vem chamar,
Que eu não canso de esperar,
Vem, me amar...

Gabi Avelar, 18 de agosto de 2020



segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Dentro dos meus braços...

   Eu sempre gostei muito de abraços. Eu detesto esse protocolo de que em um lugar se deve cumprimentar com um beijinho, com dois, com três, ou só com um aperto de mão etc. 

    Eu gosto é de abraço! Apertado, para sentir o coração. E não acho desrespeitoso, a não ser que a pessoa pegue em locais que não deveria, né?

    Brincadeiras à parte, eu, que já gostava muito do calor humano, estou sentindo tanta falta das pessoas... E não estou dizendo que estou com saudade de aglomerar... Essa palavrinha que ficou tão em uso no momento. 

    Estou dizendo que eu tenho a sensação de que nos tornamos tóxicos uns aos outros. Já pensaram nisso? Quem me conhece muito bem sabe que eu não gosto de sair de casa, mas que gosto muito de receber pessoas na Casinha. Só que agora a gente fica cheio de medos, não é? 

    Estou sentindo falta de ver as pessoas por inteiro. De, além dos olhos, ver os lábios falarem, sorrirem. De ver os músculos da face trabalharem para fazer expressões. Sim, os olhos são as janelas da alma, mas eu queria tanto ser livre novamente para observar as pessoas por inteiro.

    Gosto do abraço sincero, apertado, aconchegado, do sorriso verdadeiro, das risadas boas de pertinho. De poder dizer o quanto gosto de alguém dessa forma. De sentir o coração, a respiração, o calor do corpo. Porque, sim, nosso cérebro registra tudo isso em poucos segundos. E aí eu sinto se meu amigo está bem, se está aborrecido com algo, se está feliz, se está alegre. A gente sente tudo em poucos segundos de um abraço.

   Como eu acho bom! A gente não tem podido sequer abraçar nossos pais, nossos irmãos... Quando precisamos sair e chegamos em casa, precisamos antes tirar os sapatos, lavar as mãos. Ou até, quando trazemos algo para casa, antes de tudo, levar isso para onde tem de levar e esterilizar e depois lavar as mãos e aí a gente consegue cumprimentar quem está em casa. Aquele abraço de rompante, quando chegamos em casa acabou. Que triste isso!

    Ai que saudade!

    Quando tudo isso acabar, eu quero fazer igual a música de Tom e Vinícius: "dentro dos meus braços os abraços hão de ser milhões de abraços apertado assim, calado assim..." Porque eu quero muito sentir novamente as pessoas. De ver como são por inteiro, sem máscaras, sem luvas, sem milhares de proteções. 

    Quero um aperto de mão sincero, quero um sorriso aberto, com direito a muitos dentes, olhinhos apertados, bochechas subindo, ruguinhas no nariz e ao redor dos olhos. Ah, gente! Como precisamos valorizar essas coisas, né?

    Até eu que sou um pouquinho reservada nesse sentido de estar entre muita gente - não gosto muito, pois me sinto desconfortável - o que eu quero é um abraço de quem eu nunca mais pude abraçar. Dos que eu considero em minha convivência, daqueles que realmente me fazem bem e a quem eu acredito que faço bem também.

    Abraços, abraços, abraços e muitos abraços. Não vejo a hora de essa pandemia passar e agente não ser mais tóxico, de a gente não mais ser perigoso, de a gente poder sorrir e falar de pertinho, respirar normalmente o mesmo ar que o outro respira.

    Seja lá a piadinha que você estiver pensando aí nessa sua cabecinha, eu lhe digo: Ah! Que beleza você ter essa cabecinha bem humorada, e eu queria muito poder rir junto, fazer piada junto, falar um monte de besteira junto. Sem máscara e com abraço, de preferência.

    Tá combinado então! Dia desses, nos abraçaremos e sorriremos com sinceridade. E, quem sabe, teremos momentos muito legais de rir de a bochecha e a barriga doer e até a nossa alma sarar dessa doença terrível da distância. 

"Eu sou o mesmo livro, podes ler"...

Mudou – Taiguara “Mudou! Mudou o tempo e o que eu sonhei pra nós Mudou a Vida, o vento e a minha voz, Mudou a rua em que eu te conheci. ...