segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Sensorial

O sossego da minha alma é a rede que o vento embala, de mansinho. É a brisa gentil dos sonhos que a noite trouxe ao dia. É o caminhar sorrateiro do pássaro, o cochilar tranquilo de um gato.
Viver é o presente das estrelas, o sorriso das manhãs e o frescor da ventania - esse movimento leve das mãos de quem se ama sobre a pele nua.
Meu sorriso é de gozo, de braços, pernas, toques, badernas. De luxúria eterna da deusa humana.
Os passos do meu espírito caminham em apenas uma direção, de uma cruz que, no monte, aponta para o céu, a dor do sofrimento calmo, a firmeza da madeira quente, a loucura dos espinhos da carne, a certeza do norte que nunca mente.
Meus ouvidos escutam os sons do mundo. E os sons do outro também. De um mundo que é sonho, que é real, que se mistura onde o tempo não há. Vivo entre o presente e os ouvidos que não sentem e nada podem escutar.
Sinto o sabor do mar, mesmo longe, sinto o gosto da água pura que desce do monte e provo o doce mel dos frutos por onde passo. 
Avisto o céu azul, o céu cor de arco-íris, o céu negro da noite e o céu ameaçador das tempestades e me deleito nessas vontades naturais. Do calor. Do frio. Dos dias mornos. Das noites sem luar. 
Seguro firme a vontade de viver, mesmo quando ela não se dá. Seguro essa corda firme e frágil, a teia de aranha sempre em seu tear. Essa teia que só eu vejo, pegajosa, brilhante, fugaz. O vento não a derruba, ainda que tente. A chuva ali fica como gotas de cristal, lembrando que é ali que preciso me firmar.
Sou errante nesse mundo sensorial. Esse mundo que só vive em mim. 
Essas fontes, esses abismos, essas montanhas, esse calor. Essa imensidão que  intimida, que desperta, que devora, que apavora, que é destemida, corajosa, invencível e insegura. Uma contradição em si. Essa vontade que se acaba em e que se renova em derramamentos de eu.
Uma cratera lunar, uma estrela de sal. Um grão de açúcar.
Sentidos a postos para viver no sossego, nas tempestades, na ventania, na montanha ou no mar. 
Explorando sempre esse mundo, esse Universo, essa virtude de muito amar.

"Eu sou o mesmo livro, podes ler"...

Mudou – Taiguara “Mudou! Mudou o tempo e o que eu sonhei pra nós Mudou a Vida, o vento e a minha voz, Mudou a rua em que eu te conheci. ...