sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Talvez

Estou com tanta saudade... 
E você está aqui, tão perto.
Mas, vejo em seu olhar tanta distância. 
Talvez, na verdade, ela esteja em mim e nessa mania que querer ver olhos intensos, abraços apertados, beijos apaixonados. 
Talvez ela esteja na vontade das mãos dadas, e na viagem que ainda não fizemos.
Talvez ela esteja na juventude que não vivemos juntos. Nas brigas que não tivemos por causa da imaturidade própria dos que pouco viveram.
Talvez ela esteja nos machucados da vida, que nos fazem, por algum tempo, acreditar que novos amores são sempre melhores que os velhos.
Talvez, esteja no sol que fica muito quente e queremos a sombra novamente.
Talvez, esteja na sombra que nos faz ter frio e a gente queira ficar no sol novamente.
Talvez esteja no fato de que precisamos de incertezas para conseguirmos ter certeza de algo.
Talvez esteja na proximidade excessiva, no convívio diário... afinal, muitas vezes é, à distância, que vemos mais claramente a montanha.
Talvez esteja na distância... pois é perto que conseguimos enxergar os detalhes.
Talvez esteja na falta, pois é nela que desejamos a abundância.
Ou, talvez esteja na abundância, pois é nela que percebemos que, às vezes, mas só às vezes, a gente precisa sentir falta de algo ou de alguém.
Quem sabe? Quem sabe ela não está ali? Acolá? Aqui?
Acho que é aqui. Aqui dentro mesmo. Porque lá fora que não é. A gente é proibido de sair de si.
Quando a gente sai de si é tudo estranho, e as pessoas dizem que não nos conhecem. 
E ficam dizendo que sentem falta de nós. Só que quando a gente volta, ignoram quem somos e aí a saudade bate outra vez e a vontade de sair de si vem junto e vira tudo uma merda de uma bagunça!
Melhor deixar essa saudade aqui dentro mesmo, quietinha, regulada, calma e serena.
Equilibrada! Essa é a palavra. A gente tem de estar com a saudade equilibrada aqui dentro, porque, senão, a gente sai de si pros outros sentirem falta do que éramos e a vida vira de cabeça para baixo. E ninguém gosta de novas perspectivas.
Todos gostam da mesma vista. Aquela, bem bonita, como se fosse um quadro pintado por artista, paisagem serena, sem ventos, sem tempestade, sem calor, sem frio... Morta. 
Mas, pra quem mesmo a gente faz essas coisas, hein?
Tava pensando nisso... E aí me bateu a saudade e esse tanto de "talvez."
Talvez isso, talvez aquilo e... porra! Eu continuo na mesma, pensando nesse tanto de "quem sabe se?".
Andando em círculos, sem sair do mesmo lugar e eu quero saber se a vida é isso mesmo ou se eu vou viver entrando  saindo de cavernas ao longo da vida.
Só que ninguém fala, quando a vida começa, que quebrar grilhões machuca!
E como isso dói! Dói a ponto e a gente querer ter ficado no mesmo escuro pra sempre.
Talvez essa porra de saudade nem exista. Seja coisa da minha cabeça. 
Talvez seja a falta de seleção musical feita pra mim. Da mensagem que eu mandei e não tive resposta nunca mais, pois tudo se tornou corriqueiro e normal.
Mas, que merda é essa de normal? 
O que é isso, pelo Amor de Deus?!
Seria pedir demais para alguém me explicar o que é esse normal? 
A gente precisa mesmo ficar preso ao que esperam de nós?
E, sabe de uma coisa, no fundo todos os "talvez" seja eu... Talvez a saudade seja eu.
De uma pessoa que o tempo levou em todos os sentidos: corpo, alma, mente, espírito, sentimentos... 
Uma pessoa que sente dores e que não sabe ainda o que é o tempo, que não se entende nesse lugar que ama e que tanto sonhou.
Talvez essa saudade seja apenas a vontade de ser alguém que não teve condições de ser. Ou não!
Porque, afinal, todo talvez não passa de uma incerteza, brutal e vil. 
É o tal do nunca se sabe e nunca se vai saber e foda-se, porque a gente acredita sempre, com muito otimismo, que há um bem maior apoiando tudo nesse universo. 
Ainda bem, ufa! 
Porque, perdida como estou nas minhas incertezas, entrando a vida toda em cavernas, sendo aprisionada e me libertando o tempo todo, eu só posso não sentir saudade dessa verdade que não se interrompe: a da fé.  
Mas, ainda assim, sinto saudade. E até o dia em que eu não souber de quê é essa porra toda, eu fico com o meu talvez.
Pois, quem sabe de tudo mesmo? 
Eu não sei! Ainda bem.

"Eu sou o mesmo livro, podes ler"...

Mudou – Taiguara “Mudou! Mudou o tempo e o que eu sonhei pra nós Mudou a Vida, o vento e a minha voz, Mudou a rua em que eu te conheci. ...