Tenho a sensação de que, de uns tempos para cá, minha vida está sendo colocada em uma esfera pequenina...
Eu fico pensando que, de tão pequenino que é o espaço, e tenho tido de me livrar de um monte de coisas.
Como toda faxina, a minha também não é fácil. Coloco tudo para fora, e agora é hora de organizar. Olha aqui, olha dali... Hummmm... Isso não dá para jogar fora. Posso precisar depois. Mas, e se o depois nunca chegar? Ah! É tão bonito isso... Junta muita poeira! Joga isso fora, gente! É... Pode ser. Vou colocar naquele cantinho ali para, ao final de tudo, eu decidir o que faço.
Entretanto, há algumas coisas facinhas de jogar fora... Daí, a gente nem pensa: Vai para o lixo. O problema é precisar, de fato, depois e não ter mais. Paciência.
Só que eu quero dizer de algumas coisas que resolvi mandar para fora da minha esferinha...
Sabe aqueles imperativos que você me disse? Tudo no lixo! Tudo. E seus pedidos desesperados? Também. E as verdades mentirosas - sim, porque tudo aquilo que se promete e não se cumpre (por qualquer motivo que seja), é mentira. E isto inclui aquilo que eu prometo e não posso cumprir.
Por isso mesmo é que a Bíblia, muito sabiamente, diz que não se deve jurar, nem prometer. Porque simplesmente não sabemos do segundo seguinte.
Sabe aqueles sonhos? Então... Não passaram de sonhos que não se realizaram. Fora também! Para dar espaço a outros sonhos.
E aqueles NUNCAs, aqueles SEMPREs, aqueles, aqueles? Ups! Acabaram de cair de minhas mãos. Lá vou eu juntar os caquinhos, varrer e jogar no lixo - com muito cuidado, embrulhados para ninguém mais se machucar. Basta eu e minhas feridas profundas.
Sabe aquele medo que me inundava de nunca mais poder lhe ver? Também joguei fora de mim.
Aquelas esperanças guardadas? Todas elas? Out! Sai pra lá! Nem vem que não tem!!!
É... A faxina está ficando boa! O espaço está crescendo. Agora é o tempo de limpar a sujeira e pintar com tinta nova de vida meu coração de cores desmaiadas e mortas. Agora há espaços para a luz entrar, e para novos aromas chegarem. E a luz que quero que entre é a da minha alegria, e os novos aromas que chegarão, espero que sejam os meus melhores anos que estão para chegar juntamente com a certeza - não esperança apenas - de que os MEUS sonhos não são apenas sonhos. São a realidade que eu vivo cotidianamente.
Os presentes que desembrulho a cada despertar me mostram a bondade de um amor infinito - o único de que preciso para viver.
Ainda estou magoada por ter de jogar tudo isto fora. Não é bom fazer isso com coisas tão boas, tão lindas e que me custaram muito para conquistar. Mas, é necessário. O vazio ficará por um tempo. E vou fechar essa porta. Não atrás de mim. Mas, à minha frente. Porque eu vou ficar aqui. E curtir o silêncio que se instala dentro de mim. Até que eu me encha dele e tenha vontade novamente de ouvir alegria, risos, vozes. E sinta necessidade de sentir alguma presença. E almeje novamente convidar alguém mais além de dois para ficar.
Antes de abrir meu espaço, entretanto, vamos bater um loooooooongo papo no hall de entrada. E nada será posto dentro de mim até que seja realmente meu. Pago à vista. Nada de dívidas pendentes. E, quando eu falo do que é meu, antes de tudo, eu falo de mim.
Porque por longo tempo não fui de mim mesma, senão dos outros. Agora quero ser minha. E me amar, e me desejar, e me satisfazer e me alegrar. Depois de tudo isto eu serei de alguém, amarei esse alguém, desejarei, satisfarei e alegrarei essa pessoa.
E ela colocará em meu coração aquilo que complementar o que já existe lá. Sabe quando você decora a sua casa? Primeiro põe lá dentro o que lhe trará o conforto necessário. Depois, os detalhes farão a diferença: Peças preciosas, com histórias para contar, de design... E, assim, tudo vai ficando a sua cara.
Assim será meu coração. Ou melhor, já é... Quando eu terminar de colocar o que é necessário eu deixo que ponham os "detalhes tão pequenos de nós dois"...
Faxina, gente, faxina geral... Que é para minha esferinha não se condensar demasiado e fazer novo big-bang. Pelo menos ainda não, ó!
Vou, primeiro, curtir esse Universo que se formou para, depois, deixar outro acontecer. Tudo a seu tempo. E nada de atropelos.
Mas, agora, que estou cheia de poeira de uma limpeza dolorosamente necessária, eu vou ali tomar um banho revigorante - de alegria - para descansar... E esperar que meus ouvidos se encham do silêncio que se fará com a falta que traz a ausência do que tive de, penosamente, jogar fora de mim. No lixo do passado.
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