Há pouco eu revisava alguns marcadores do meu e-mail e "dei de cara", no melhor sentido da expressão, com um deles que eu denominei de "comentários anônimos do Blog"...
Ao mesmo tempo em que sei que algumas pessoas - isso por relato delas - escreviam anonimamente porque não conseguiam se identificar e até mesmo por questões outras que não vem ao caso dizer aqui, eu tropecei em alguns comentários dos mais cruéis. Pelo estilo, infelizmente, sabia até quem eram algumas das pessoas que escreveram aquelas "absurdidades".
Chamaram-me de horrorosa, de desesperada para ter um homem, de pseudointelectual, chata e tudo o mais que puderam dizer.
E fico pensando o quão cruéis as pessoas conseguem ser com seu próximo e até mesmo com as dores e ainda as alegrias que sentem, sendo que estas passem a ser vistas como sendo imerecidas e causam raiva alheia.
Sinceramente, não escrevo e jamais escrevi para obter elogios. E as críticas sempre foram bem-vindas. Mas, acontece que crueldade e sarcasmo são coisas das quais eu passo muito longe de ver, ouvir, ler e mais ainda de praticar.
Comecei esse blog para curar minha alma. Engraçado, que uma dessas pessoas anônimas um dia me disse que eu falava que passava algumas coisas e era como se isso fosse mentira. Mas, mal sabe essa criatura de Deus - espero que seja dEle porque, às vezes parece que é do Diabo - o quanto eu sofri.
Não tive, naturalmente uma vida sofrida. Não passei fome. Tive tudo o que meus pais podiam me oferecer com todo o amor do mundo - boa educação, casa confortável, boas escolas, roupas bacanas -, sempre fui muito feliz por natureza e tive excelentes exemplos de honestidade, amor, companheirismo. Viajávamos todos os anos, estudei a vida toda em escola particular, tínhamos dois carros, mas nem por isso eu não andava de ônibus - muito pelo contrário.
Eu me casei, da primeira vez, com quase 20 anos. Foi uma festa de princesa. Mas, posso dizer que o casamento - aquele - foi uma decepção. Nada do que imaginava e havia visto na minha casa com os meus pais. Meu grande problema ali foi a solidão e o abandono. Por nove anos e meio eu fui só. Claro que houve momentos alegres, houve amizade e companheirismo. Mas, distância física e emocional enormes, e tudo aquilo foi morrendo pouco a pouco. E, pelo menos a meu ver, nos tornamos incompatíveis e totalmente desiguais.
E eu queria muito pouco, na verdade. Só companhia de alma. Gostar de fazer coisas juntos. E respeito, que ao final, nos últimos anos, foi só acabando. Acabei, infelizmente - e para a minha desonra - me envolvendo com um outro homem e casado. Motivo de grande arrependimento. Grande mesmo, mais do que eu possa superar. O envolvimento real, no entanto, começou depois que decidi acabar com o casamento de uma vez. E não voltaria atrás, nem que não tivesse envolvida com outra pessoa.
Meu arrependimento não foi de ter acabado o casamento. Não foi de ter tido outro alguém. Mas, foi de ferir o coração de uma outra mulher, mãe, esposa... Que havia devotado uma vida inteira a um homem que não a valorizava por suas muitas virtudes - ou pelo menos não a valorizava para mim. Fui tola como muitas outras mulheres são tolas. Acreditei no "conto do vigário". Acreditei no "eu não sou feliz", "ela não se arruma", "ela não se valoriza", "eu estou apaixonado por você", "você é a mulher da minha vida", "largo tudo por você"... E tantas outras mentiras que muitos homens dizem. E me senti cheia de mim, melhor que ela. Quando jamais fui e jamais serei.
Doeu saber que não era bem assim. Doeu porque também sou mulher. E sou filha, e hoje sou mãe. Doeu saber que ela soube da pior forma possível. E doeu ter de saber isso tudo por meio do próprio Espírito Santo. Não sei no que você acredita, mas eu creio. Fui criada em um lar em que Cristo era o Princípio e o Fim. E nunca, nem nos piores momentos da minha vida, nem quando me achei o lixo do lixo, senti que estava longe do meu Senhor. E tive um sonho que me deu a certeza de que aquela mulher orava a Deus pela sua família. Pedia a Ele que eu saísse da vida de seu homem, de seu marido, do pai das filhas dela. Confesso que, na verdade, ainda dói muito. Porque nunca tive a chance de me desculpar, de pedir perdão. Mas, tudo passa. O tempo passa. E soube que esse homem permaneceu com sua família até o dia em que foi embora dessa existência.
Na minha cabeça, no meu coração e, de fato, o casamento havia acabado. E ponto. Eu não queria mais viver ao lado daquela pessoa, eu não queria mais sentir o abandono a que havia sido entregue, eu não queria mais ser desrespeitada e ignorada, eu não queria mais!!! E ponto!!!
Um papel nos unia. E nada mais. Porém, a indignação da criatura foi tamanha que fui expulsa de casa, tendo apenas 10 minutos para sair com minhas roupas e o que mais eu consegui levar em sacos de lixo... Tive o apoio da minha família, de amigos, mas o que me doeu não foi o fato de ter saído daquele apartamento, nem de ter me separado, de ter chegado a um fim. O que me doeu foi o fato de que anos devotados aos cuidados, à amizade e a uma compreensão que poucas mulheres teriam, terem sido ignorados, como se eu não passasse de uma vadia prostituta. E ele saiu como a vítima da história, e não eu, que passei anos a fio amargando um casamento que por muito tempo não existiu, de fato, nem física, nem emocionalmente.
Como se não bastasse, ainda tive uma outra experiência amorosa mal sucedida. Meteórica e, como tal, arrasadora. Bateu em mim com a mesma força do meteorito que extinguiu os dinossauros da face da Terra.
Havia me trazido esperança e tudo de melhor da vida. Era companheiro, alegre, pessoa da melhor qualidade, que me enchia de tudo o que mais desejava. O tempo em que durou foi intenso e maravilhoso. O fim foi tão repentino como um raio. Não deu tempo de sequer entender. Aliás, até hoje eu não entendo bem, porém isso já ficou no passado, e o que não faz sentido com o tempo, jamais fará.
Mas, eu sofri. Sofri demais. Doeu mais que qualquer outra dor que eu tenha sentido até então. Hoje, meus vislumbres de dor insuportável são outros. Sou mãe. Daí você tira o que pode ser isso para mim.
Tive de aprender a me virar sozinha. Estava morando longe dos meus pais que, mesmo depois de tudo, ainda me davam todo o apoio que podiam, mas eu queria saber como era. Fui protegida de tantas coisas. Apesar de jamais terem desconfiado de qualquer fato ou sentimento relativo ao primeiro casamento, eles acabaram entendendo tudo e me perdoando, me amando, me amparando, dia após dia.
Portanto, foi depois do fim de um casamento, do fim de um caso e do fim de um namoro arrasador que eu, cansada de tudo isso e entendendo que precisava compreender a mim mesma, que criei este Blog, o Universo Verbal.
Não foi para mostrar meus dotes como escritora, tampouco para que qualquer dos envolvidos na minha existência lessem. Era para EU me ler. Não tinha dinheiro para pagar psicólogo e psiquiatra que, certamente diriam na época que estava deprimida. Então, minha alternativa foi a escrita. Algo de que gosto muito e que me faz muito bem.
Estou em uma outra fase da vida. Conheci o Paulo - ou melhor, ele me achou -, a gente foi antes amigo, depois namorados e agora marido e mulher, tivemos nossa filha... Conhecê-lo foi um divisor de águas na minha vida. Costumo dizer a ele que é como se eu, no meio de um deserto, visse um pequeno oásis e achasse que aquela era a maior fonte de água do mundo. Mas, quando o conheci, foi como se Deus me jogasse no Rio Amazonas!!!
Ao mesmo tempo eu já estava com um bom emprego, mas fui chamada para assumir meu cargo em um órgão público, havia voltado para a casa dos meus pais e feito ali meu cantinho (tudo comprado por mim e decorado com todo o amor! Uma novidade na minha vidinha).
Não foi um arroubo apaixonado. Foi manso, singelo, gentil, cuidado, amigo, amoroso. Foi tão natural e calmo!!! Tão diferente de tudo.
Eu resisti, confesso que resisti porque não queria sofrer mais, não queria fazer ninguém sofrer e porque eu precisava me compreender só. Me enxergar, me esquadrinhar. E a escrita me ajudou muito. O Blog nasceu junto com a amizade com o Paulo. Ele viu todo o meu sofrimento. Ele sabia de tudo. Ele conheceu tudo de mim. A melhor e a pior parte. E ainda assim escolheu me amar. Até o dia em que escolhi amá-lo.
Muitas dores se passaram. Muita água turbulenta se passou. Ainda sinto algumas dores na minha alma, como um osso fraturado que dói com o frio. Tenho sintomas de depressão, sou mais sensível do que gostaria de ser. Trato dores da alma que refletem no corpo.
Hoje compreendo que essas dores passarão. E, se não passarem, ao menos quero aprender a conviver com elas. Com a mesma alegria e felicidade de carrego na vida. Muitas vezes me senti caída. E levantei. E há oito anos, cinco meses e vinte e três dias, tenho o melhor motivo do mundo para me levantar... Minha Sofia, minha princesa, o coração mais lindo que tive a oportunidade de conhecer nessa existência.
Doce, meiga, de alma grande e generosa, compreensiva e amável. Gentil, educada... A teimosia em pessoa... A avoadinha da mamãe, que não esquenta com quase nada. E tão linda!!! Ela, sim, é o maior amor da minha vida. Meu bálsamo. O remédio que Deus me deu e que curou tantas dores de mim. E que me dá tanta força e coragem para levantar todos os dias.
Sou muito privilegiada. Realmente. Sou.
Aqueles comentários não ficaram no passado. Estão aqui na rede. Estão publicados. Foram ditos por alguém que não conhecia minha história. Foram ditos por pessoas que não sabem o que sinto e o que sou. De fato, minha vida é muito boa. Sempre foi. Mas, o que dói no coração e na alma pode ser fatal. Pode matar sonhos, pode destruir uma vida. E eu fiz o que pude para sobreviver a isso e salvar o pouco que podia para refazer minha história.
E eu escrevi para documentar essa história e nunca mais repetir os mesmos erros do passado. Para nunca mais me anular em função do outro. Para conseguir dizer o que penso. Para brigar quando for preciso.
Ninguém precisa me detestar, nem me amar tampouco. Basta guardar o devido RESPEITO. Realmente, não nasci rica. Sou filha da classe média brasileira, tenho uma vida, por assim dizer, normal. Aqui em Brasília, morava e voltei a morar em uma cidade satélite e aqui mesmo no Blog fui menosprezada por isso, porque acredita-se que uma pessoa que more em Sobradinho não possa ser elegante, se vestir bem ou ainda ser refinada. Mas, para o lamento dessa pessoa anônima, gosto de ser tudo isso. Junto com meu marido de classe média já conheci muitos lugares do Brasil e do mundo. Vou a excelentes restaurantes. Visto boas roupas. Tenho minha casa própria. Meu carro. Falo dois idiomas. Sou estável no meu emprego. E tudo isso conseguido com meu esforço e com o do meu marido e até dos meus pais que são tão generosos. Minha filha estuda em escola pública. Na melhor delas, por sinal. E, até que eu ache conveniente, será lá que ela vai ficar. Porque acredito na escola pública. Eu sou parte dela.
Então, só quero dizer uma coisa: Anônimo(a) Ofensivo do meu coração, que essas palavras sirvam para você entender que a vida alheia é algo muito precioso. Todavia, como imagino que você não se respeita e não se ama, você não pode me respeitar, tampouco me amar ou sequer gostar de mim. Essa é uma premissa que aceito e que respeito. Só que educação é algo que a gente ganha dos pais da gente desde que a gente nasce. E eu imagino que você tenha sido bem educado(a). Não seja, portanto, ingrato com quem lhe deu instrução na vida. Ponha em prática o que aprendeu em casa e não use o artifício do anonimato para ofender, ferir, magoar as pessoas. Tal conselho é bem útil, tendo em vista que a vida não é tão amorosa e tão gentil como minhas palavras. Aqui se faz, aqui se paga, viu? Não se planta capim pra colher morangos, darling!
Nenhum comentário:
Postar um comentário