segunda-feira, 3 de junho de 2019

A minha história de depressão e ansiedade.


ALERTA DE TEXTÃO!





Antes de começar, gostaria de dizer que eu não estou aqui chorando pitangas ou expondo a minha vida pessoal para ninguém. Meu objetivo é ajudar a quem está na mesma situação que eu há anos e, muitas vezes, não percebe o início da coisa e seu desenrolar. Hoje vamos falar de DEPRESSÃO E ANSIEDADE. Quer vir comigo? Então, vamos.

Vou precisar fazer um longo relato para que seja entendido os motivos pelos quais eu cheguei ao estado em que fiquei e como, aos poucos, estou melhorando com a ajuda da família, amigos e profissionais dedicados e talentosos, instrumentos nas mãos do Senhor para a minha melhora / cura.

Há muitos anos eu já começava a dar os primeiros sinais de depressão. Mas, não percebia. Eu tinha distúrbio do sono... mesmo criança, eu acordava várias vezes durante a noite e tateava muito as paredes procurando a saída do quarto. Qualquer barulho me acordava. Tinha muitos pesadelos. Mas, a depressão causa distúrbios diversos: desde dormir demais até dormir pouco. Porém, em ambos os casos, você nunca tem um sono restaurador. Sempre acorda cansado.

Por um tempo – nos vinte e poucos anos – dormia demais. Demais mesmo. Emagrecia sem motivo aparente ou então porque não conseguia comer mesmo. Eu até dizia que não gostava de comer, pois não tinha prazer em fazê-lo. O que acontece é que essas coisas são sutis. Você não percebe no seu cotidiano que elas estão acontecendo.

Depois do divórcio do primeiro casamento, continuei a apresentar problemas como sono. Mas, dessa vez como na infância. Acordava com qualquer barulho e dormia muito pouco, só que eu achava que era suficiente dormir 2 horas por noite, 4 horas pois, mesmo assim, eu tinha muita disposição para realizar minhas tarefas cotidianas no trabalho e, depois do trabalho, por um tempo, ainda fazia cursinho. Chegava em casa em torno de 23h30 e ainda ficava acordada até as 02h, 03h da madrugada. O outro dia começava e eu ficava a todo vapor no outro dia. E o tempo foi passando. Nunca procurei ajuda porque achava que eu era assim e que era normal. Também não procurei ajuda quando aconteceu a separação para resolver algumas coisas dentro de mim. Segui assim mesmo, sem contar com ninguém para me ajudar com meus sentimentos muitas vezes confusos. Resolvi então começar a escrever um Blog. Ali eu desabafava meus sentimentos e reflexões, mas algumas pessoas começaram a interferir. Negativamente e positivamente também. Sinceramente, não me doíam tanto as críticas porque sei que ninguém é obrigado a gostar de mim. Só que lidar com falta de respeito é foda. Mas, eu entendo que ninguém é unanimidade e há gente muito mal caráter mesmo no mundo. Paciência...

No ano de 2010 eu já estava há quase 2 anos no STJ como terceirizada. Havia passado pelo Serviço de Saúde e era secretária do gabinete de um ministro quando conheci meu marido. Pois, depois de 4 anos de espera, fui chamada para assumir meu cargo como professora de Espanhol e Português na Secretaria de Educação aqui do DF. Então, ao final do ano de 2010, eu já estava trabalhando, casada e em janeiro de 2011 com minha filha linda nos braços.

O início da carreira de professora não foi fácil. Fiz o concurso para trabalhar no Centro Interescolar de Línguas da SE, onde as salas de aula contam com 20 e poucos alunos apenas e há muito menos turmas por professor, por se tratar de um serviço especializado. Os recursos são melhores, enfim. Mas, aquele era o último ano para que o Espanhol virasse matéria obrigatória no ensino regular também. Fui chamada para o ER. E qual foi a minha surpresa ao saber que cada turma teria apenas uma aula por semana! E o detalhe: Não havia material didático para a disciplina. A carga horária de um professor de jornada ampliada aqui no DF é de até 30 aulas semanais em sala de aula, fora as coordenações no período contrário. Pois, a minha escola tem 24 turmas por turno, com cerca de 40 alunos em sala. E eu dava aula para todas essas turmas. Uma aula por semana. Sem material didático.
Eu me lembro que no 1º bimestre do ano de 2010 não havia bloco de provas lá na escola. Havia a semana de provas, mas não o bloco e eu levei mais de 900 provas para corrigir. Mesmo com gabarito e uma pequena máscara, passei 3 dias para corrigir junto com meu então namorado, Paulo. Fui para a casa dele e mandamos ver na correção. Depois, mais o trabalho de colocar todos esses resultados nos diários. Eram 24 diários... durante aquele ano minha carga era essa. Mas, teve ano em que eu tive uma turma de língua portuguesa e mais 24 de espanhol. Teve ano que dei aula apenas de português mais 6 turmas de PD em que dava aula de leitura, interpretação e produção de textos, sendo mais ou menos 240 redações por semana. Neste ano de 2019 minha carga horária foi de 30 horas fechadinhas... porém, como estou coordenadora por mais este ano, estou com uma professora substituta dando aula para as minhas turmas e ela já me relatou que é uma jornada exaustiva, pois, além das aulas de Espanhol, ela ficou com uma turma de Português e ainda outras de PD.

Teve ano que estive – assim como estou – em Coordenação. E é um trabalho difícil. Acho mais fácil lidar, muitas vezes, com alunos do que com alguns colegas. Mas, tudo faz parte... Beleza. Fico fazendo o Jogo do Contente: meu emprego me dá tudo o que preciso e muito mais. Me ajudou a realizar muitos sonhos junto com meu marido e minha filha. Nossa casa é linda e aconchegante, do tamanho preciso da nossas necessidades, temos carros, conseguimos nos alimentar muito bem, incluindo as minhas restrições alimentares que são caras.

Eu já andava muito cansada pois, além de tudo isso, aos 2 anos Sofia foi para a escola. E adoeceu demais, demais mesmo. No fim do ano contamos junto com o pediatra dela quantas consultas foram: 18. Fora as de pronto socorro e no STJ com as pediatras de lá. Pelas minhas contas, foram mais de 24 idas ao médico no ano de 2013. No final daquele ano eu quebrei o pé – graças a Deus! 60 dias dependendo dos outros, pois não podia apoiar o pé no chão. Maravilha, pois estava precisando desacelerar.

No ano de 2014, em março, eu e minha pequena tivemos dengue. Ela sarou logo, mas eu fui só piorando até ser internada com nível de plaquetas baixíssimo. Fiquei parecendo um alien. Vermelha, muito vermelha e muito inchada. Fora que sentia dores excruciantes em todo o corpo, sobretudo na planta dos pés, portanto, ficar em pé era um martírio, sem falar no cansaço extremo.

Não bastasse, sofri um assalto a mão armada na porta da escola de minha filha logo depois de deixa-la na escola. A criatura não levou o carro. Em compensação, levou muito da minha paz. Foi ali que, além das tendências à depressão que me acompanharam por anos, eu comecei a desenvolver transtorno de ansiedade, oriundo de um estresse pós-traumático que nunca tratei. Fora isso, os primeiros sintomas da fibromialgia começaram. E, também nesse ano, eu tive muitos episódios de taquicardia violentos e, em um deles, fui parar no Hospital do coração com 196 bpm. Fiquei lá por cerca de 8 horas tomando medicações e sem poder levantar sequer para fazer xixi. Muitos exames depois, a constatação: estresse e ansiedade, pois no coração nada havia, graças a Deus!

Havia muitos anos que sofria de dores na coluna. Depois disso, a dor virou uma hérnia de disco na lombar associada a alguns outros abaulamentos e protusões na cervical. Tratamento para as dores e, enfim, comecei a tomar o primeiro remédio controlado, o Cymbi na dose mínima. Achava que era para as dores crônicas na lombar e ciático, mas percebi que fiquei mais calma e que alguns pensamentos paranoicos sumiram.

Depois do assalto, eu comecei a vislumbrar milhares de formas de minha filha morrer. “E se ela estiver no escorregador e cair lá de cima”? “E se ela cair e bater a cabeça na quina de uma mesa”?, “E se o assaltante voltar e eu estiver com ela, o que eu faço para tirá-la do cadeirão”? E se, e se, e se... Esse “e se” me atormentava dia e noite e eu mal percebia. Comecei a notar isso quando tomei o remédio e certo dia ele acabou e eu fiquei uns 3 dias sem tomar. Além dos sintomas normais da abstinência – tontura, náuseas, dor de cabeça e aumento considerável das dores pelo corpo e uma vontade insuportável de chorar uma caixa d’água -, eu comecei a ser torturada em nível máximo por aqueles pensamentos “e se”. E nunca contava isso para ninguém. Foi aí que percebi que o remédio era meu escudo.

Foi em 2015 que um dos meus médicos começou a dizer a palavra FIBROMIALGIA. Minha mãe tem, então eu já sabia que, por ela ter um componente genético muito forte, era muito provável mesmo que eu a tivesse. E os sintomas batiam: fadiga crônica, dores por todos os lados que pioram quando nos estressamos ou entristecemos, inchaço por todo o corpo, rigidez nas articulações ao acordar, volume de dor alterado em algum local específico em que já temos algumas moléstias. Foi nesse ano também que começaram a aparecer as dores no ombro direito e no músculo epicôndilo, que é um dos responsáveis pelos movimentos das mãos, especialmente o de escrever, digitar etc.

Começou como um cansaço por escrever no quadro. Então, quando eu começava, tinha de parar frequentemente de escrever para baixar o braço. E lá vamos nós começar a investigação. Bursite, tendinopatia e tensão exagerada na área do pescoço e ombro – Síndrome Dolorosa Miofascial – SDM – na região cervical e também um ponto gatilho doloroso na lombar. Mas, não parei de trabalhar e segui realizando os tratamentos que precisava. Fisioterapia, medicação, compressas e emplastos quando preciso.

No ano de 2017 a dose do Cymbi foi aumentada. E ele, ainda por cima, simulava sintomas do climatério, como as ondas de calor. Eu não dormia mais direito. Acordava toda hora e, quase toda noite, molhada de suor. Molhada mesmo. E inchada demais. O tempo todo inchada. Engordei muito mais durante esse período. Mais de 10 quilos. Para quem já estava mais de 20 acima do peso, foi um golpe. Minha autoestima foi pro lixo. Estava me sentindo pesada, no corpo e na alma também, só que não deixava de me arrumar de jeito nenhum. Isso era até uma forma de me fazer sentir mais bonita, pelo menos no rosto e cabelo e comprava roupas – A-DO-RO! – como um modo de “esconder” o excesso de peso.

Todas as vezes que, por algum motivo não tomava o remédio, eu ficava péssima. Os pensamentos “e se” vinham com tudo. Mas, segui. Parei algumas vezes de trabalhar devido as dores na coluna e agora no braço também. E eu só queria mesmo ficar em casa. Ficar no escurinho do meu quarto. E dormir. Mas, eu não dormia bem. Meu sono não era reparador. Sair para trabalhar já estava muito ruim. Muito mesmo. E eu seguia. Já desconfiava que precisava de ir a um psiquiatra a essa altura, mas não ia.

Em 2018, finalmente conversei com Paulo sobre tudo o que acontecia. Ele disse que achava que eu poderia parar de tomar o Cymbi, mas eu desatei a chorar. E contei tudo para ele. Foi quando ele tomou pé da minha situação. Ele nem imaginava que eu estava passando por tudo aquilo sozinha.
Entrei em licença médica mais uma vez por causa de dores na coluna e no ombro. Quando fui para a perícia médica do meu trabalho, o perito disse que aquilo era um caso clássico de fibromialgia. E que ortopedista não sabe nada sobre isso – aham! Me disse que eu deveria procurar um reumatologista e um psiquiatra, pois são eles que tratam dessa doença. E que eu deveria tentar emagrecer, pois a baixa autoestima poderia me levar a uma depressão...

Bom, até então eu não estava me preocupando demasiadamente com meu peso. Apesar de tudo, eu sempre me achei bonita e sempre gostei muito de me arrumar. Mas, aquelas palavras foram um golpe na minha autoestima mesmo. Olhei-me no espelho do elevador e aquela mulher gostosa que tinha saído de casa, estava voltando sentindo-se uma baleia orca. Fiquei envergonhada da minha aparência.
Fora isso, uma vontade imensa de mudar. E mudei a cor do cabelo. De pretíssimo para loiro platinado. Isso já em 2017. Aliás, já em 2016 eu estava com essa vontade louca. Tanto que cortei meu cabelo curtíssimo! Ficou lindo, mas não seria do meu feitio fazer isso em tempos mais normais.

Também surgiu uma vontade de mudar de casa. Para outro condomínio. E, divagando, não acho que isso seja ruim. Acredito que vou melhorar o que me foi dado, vou dar um “up grade” no patrimônio. E isso aconteceu também porque meus pais foram embora daqui. Eu me senti perdida e sem chão. Toda minha estrutura e logística cotidiana se apoiava neles, em parte. Eu tinha a segurança de ir trabalhar quando o Paulo não estava em casa e deixar Sofia porque meus pais cuidariam dela. E isso acabou. Por completo. E mais uma tristeza apareceu. E a vontade de ficar em casa também. O trabalho já não me satisfazia.

E resolvi seguir o conselho do médico. Procurei as duas especialidades. A reumatologista nem tocou em mim. Muito menos me pediu exames para descartar a fibromialgia. Manteve o tratamento que meus ortopedistas já haviam prescrito – o Cymbi. Nunca mais voltei para dar notícia a ela.

Em novembro fui, finalmente, ao psiquiatra. E lá vamos nós aumentar de novo a dose do medicamento. A única novidade foi que me mandou fazer psicoterapia. Mas, a Gabi foi? Não. Ele me mandou voltar em fevereiro de 2019. Foi lá que ele me disse o que eu já sabia há muito tempo: depressão, ansiedade e fibromialgia. O Cymbi era o remédio mais indicado para esses casos, pois tem uma excelente resposta à dor.

Em dezembro a depressão atacou com tudo! Muito choro, muita vontade de sumir, pensando que o mundo seria muito melhor sem mim... sim, isso é um início de pensamento suicida. Nunca falei isso para ninguém. Mas, sim, eu pensava que queria mais morrer do que estar viva. Mas, eu pensava na minha filha, pensava nos meus pais, na minha família e no sofrimento que isso traria a todos e então eu sacudia a cabeça para os pensamentos irem embora. Só queria ficar em casa e não precisar sair para nada. O trabalho era até um alívio, pois me tirava de casa. Mas, estava de férias, o que eu poderia fazer? Tinha de lidar com as dores que me atacavam de todos os lados. Por dentro e por fora. Até o couro cabeludo doía. Eu me sentia uma inútil: inútil para controlar minhas finanças, inútil para controlar meu peso, inútil para ser uma mulher decente para meu marido, inútil como dona de casa, inútil como mãe. Para quê viver? Eu pensava.

Em janeiro tomei a decisão de parar de tomar o Cymbi. De uma vez. Não tinha mais em casa e eu não ia mais comprar. Vivi o inferno! Passei muito, muito mal mesmo com a síndrome de abstinência da duloxetina.

Eu não tinha vontade de falar. De sair da cama. As dores vieram com tudo, tudo mesmo. Tontura de quase fazer cair. E uma vontade de vomitar tremenda. Eu, de fato, vomitei muito. Mas, eu pensava que era melhor passar um tempo sentindo isso do que continuar a suportar todos os efeitos colaterais do remédio. Inchei muitooooooooo! Mas, consegui me livrar dele. Demorou mais de um mês, mas consegui.

Em fevereiro voltei ao médico antes de retornar à escola. E ele meio que me deu uma bronca, mas respeitou minha decisão. E me deu novo encaminhamento para a terapia. Mããããããããs... Comecei a jornada de trabalho mais escola de Sofia. Só que eu me via cada vez mais insatisfeita. Com mais vontade ainda de ficar só em casa. Não queria trabalhar mais. Tudo estava muito ruim... Meu quarto era meu refúgio e eu chorei muitas vezes sozinha no banheiro para que ninguém visse o meu estado.

Até que um dia eu fui destratada por um professor na frente de todo mundo e eu desabei... Disse pra mim mesma que isso tinha de acabar. Estava muito mal das dores. Da coluna, do ombro. Antes desse episódio, eu travei a coluna em casa. Durante o carnaval. Eu sequer conseguia caminhar. E entrei de licença por poucos dias, mas o trabalho estava me exaurindo. Depois do entrevero com o colega, eu simplesmente disse para mim mesma que bastava. Eu precisava parar. Meu pescoço, ombro, braço, coluna, ciático doíam tanto que eu tinha de recorrer aos opiáceos da vida.

Procurei meu médico ortopedista que preparou um relatório bem bom, fui a uma psiquiatra que já atendia a uma colega minha e foi aí que o tratamento mais intensivo começou. Recomecei a tomar antidepressivo, mas agora um outro, e ela pediu a psicoterapia também. Além disso, minha tia, preocupada comigo, me recomendou uma clínica especializada em dores crônicas. E lá fui eu procurar um médico acupunturista. E disse para mim mesma que eu seguiria todos os tratamentos à risca. Inicialmente foi 1 mês de licença.

Muitas medicações, muito choro, muito esforço, muita dor, agulhadas intermináveis, dieta sem glúten, sem lactose e sem açúcar, psicoterapia e estou aqui agora em maio, bem melhor. Bem melhor mesmo. As coisas começaram a fazer sentido dentro de mim. Descobri que meu coração guardava um monte de entulho e que eu precisava jogar aquilo fora. Descobri que não sou satisfeita com muitas coisas, mas agora tenho com quem falar. Só preciso agora aprender a dizer algumas coisas para quem, de fato, precisa ouvir o que eu tenho a dizer. E preciso também aprender a não deixar que me agridam deliberadamente sem que eu reaja ou demonstre que estou insatisfeita com aquilo.

As dores melhoram muito, pelo menos aquelas superficiais que me incomodavam a ponto de um homem com a barba por fazer não poder encostar no meu rosto que eu tinha vontade de gritar, pois pareciam mil agulhas me perfurando. Ainda sinto muita dor no braço direito, do cotovelo até a cabeça... Uma coisa horrorosa. Mas, com a qual eu tenho aprendido a conviver.

Aprendi que depressão não é ingratidão minha. Pois, uma das minhas maiores angústias era pensar que eu tinha tudo o que sempre sonhei e lutei para ter. Que isso não é um estado que se escolhe estar. Ficar na cama o tempo todo, sabendo que eu tinha roupa para lavar, louça pra lavar, casa para arrumar, uma filha pra cuidar e um marido que espera por você estar bem sem reclamar de dor o tempo todo ou triste e largada pelos cantos sem vontade sequer de tomar banho e escovar os dentes é algo que ninguém almeja. Muito menos eu, que sempre fui a entusiasmada, a arrumada, a cheia de ideias e de autoestima.

Aprendi que ansiedade não é algo que se procura. Que se quer ter. Não é algo que escolhemos.... Pensar em tragédias o tempo todo, viver cansada, sem energia para nada, apesar de a cabeça não parar um segundo é desesperador! Quem quer isso?

Com tudo isso, eu emagreci. Não tenho mais diarreia crônica, estou com mais disposição e dormindo muito melhor. Não sinto mais aquela tristeza paralisante. Ainda sinto, mas já aprendi quais são alguns gatilhos e tento controlá-los da maneira que posso. Tenho ainda algumas reações exageradas a algumas emoções, mas eu entendo racionalmente que não preciso ficar de tal forma, ainda que não consiga eu agora aprendi que meus sentimentos também importam. Nem sempre é exagerado. É só o que eu sinto e o modo como sinto. Nada mais.

E eu me sinto cada vez mais próxima de Jesus. Muito. Pois Ele tem me ensinado cada dia mais sobre si mesmo. Sua Graça, Misericórdia e Bondade. Sua Justiça. Para algumas pessoas, a depressão, a ansiedade são estados de quem está fora de Deus. De ingratidão. De falta de fé. De falta de igreja. E não é!

Eu passei por tanta coisa sem pedir ajuda de ninguém. E isso foi um erro enorme! Eu engoli muitos sentimentos com medo de magoar os outros. Com medo de que soubessem como era a minha vida. Com medo de não ter aprovação. Com medo. Vivi com medo. Ele ainda não passou por completo, mas eu estou tentando me livrar dessa criança que ainda insiste em viver em mim, que insiste em ter medo do abandono, medo de perder, medo de não ser amada o suficiente, medo de não ser aprovada. Tudo isso estava aqui dentro guardado em segredo. E eu estou abrindo as portas. Eu acredito que o emagrecimento seja até por causa disso também. Porque a alma pesada também engorda o corpo. E a gente come também os sentimentos. De forma literal e figurada. Os doces, a comida saborosa são alegorias da alegria que a gente tem vontade de ter e não tem. E daí acaba mandando para dentro.

Sigo mais leve esse caminho. Portanto, eu quero dizer a você: Você não é empecilho à felicidade e bem-estar de ninguém. Cada um é responsável por si mesmo neste quesito. E em outros também. Você pode estar no escurinho agora com uma pequena luz à sua frente lendo isto tudo que disse aqui e se vendo na minha história ou em parte dela. Pois, saiba que se eu consegui, você também pode. Você não é ingrato. Seu problema pode não ser falta de Deus na sua vida. Você pode estar em uma igreja e ser um membro ativo e até um líder ou um pastor. A depressão pode pegar você também. E quem disse que não? Até o apóstolo Paulo disse que APRENDEU a viver contente em toda e qualquer situação. E isso quer dizer que, em algum momento, ele esmoreceu e duvidou. Porque era humano como eu e você.

Eu, como ele, também percebi que tenho um espinho na carne. Aliás, vários. Já orei. Já pedi para os outros orarem. Já acreditei que não teria mais isso, já deixei de acreditar... Agora, sigo ouvindo de Jesus o tempo todo na cabeça e no coração: “A minha Graça te basta e o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza”. Ora, se o meu Senhor enfrentou a agonia da Cruz, o que são algumas dores no meu corpo que um dia perecerá? O que importa é o espírito estar em Cristo. Pois, Ele quem vive em mim! Que honra maior posso querer nessa vida e na vindoura?

Então, baixa a bola da espiritualidade frágil que pensa que é porque está acometido por um mal psiquiátrico – que é considerado uma doença mental – que você tem menos importância dentro de uma comunidade. Portanto, se está fingindo que está tudo bem, pare agora! E mostre a sua verdadeira face. Pois é só assim, admitindo que temos alguma coisa para tratar que nos tratamos.

Enquanto eu não disse para mim mesma o que já sabia, enquanto eu não admiti que precisava de ajuda eu não busquei ajuda, portanto, não fui ajudada. Estou muito bem acompanhada agora por seres humanos capacitados e essa capacitação é obra – para mim – de Deus, pois é Ele quem dá a vocação, a inteligência e a vontade. E, principalmente, a vida.

Entendo o seu desânimo, entendo os muitos momentos de desespero, entendo o fato de que você quer aliviar a sua dor de qualquer forma, mas a automutilação, a vontade de morrer e a vontade de ficar só sobre a cama sem saber nada do mundo não vai fazer a dor passar. Pelo contrário. Já imaginou quantas pessoas à sua volta amam você? Era nisso que eu pensava o tempo todo. Mas, eu preciso dizer que você precisa aprender a se amar também. E muito. Comece mostrando quem realmente você é. Tira essa máscara, essa “persona” e mostra o olho inchado de tanto chorar. Mostra suas lágrimas, a olheiras de não dormir. Mostra as cicatrizes, fala para o mundo que você está em DEPRESSÃO, ou que sofre de ANSIEDADE, ou os dois.

E procura e peça ajuda!!! Urgente! Pois você é a pessoa mais importante. Não adianta dizer que ama os outros se não se ama. Isso é uma mentira muito mal contada. Se a gente não se ama também não sabe amar o outro...

É isso... eu precisava dizer tudo isso. E espero, sinceramente, de coração aberto, que você possa entender esse processo todo por que está vivendo neste instante. E, se você leu até aqui e não é portador dessa doença mental, saiba que ela existe. Que ela não é frescura. Não é preguiça. Não é má vontade. Na sua frente há pessoas sorridentes que bebem as próprias lágrimas do coração e você nem percebe até o dia em que ela não está mais convivendo com você, ou porque está de licença, ou porque ela já desistiu de conviver com o resto do mundo, ou pior, porque tirou a própria vida, pois já não aguentava mais conviver com a dor de ser quem era.

Seja mais empático. Aprenda a ter compaixão. A pelo menos tentar sentir a dor do outro. Saiba que nessas linhas encontra-se apenas um lapso de mais ou menos 10 anos da minha vida. Se eu fosse contar tudo, não sairia daqui. Então, pense que há uma história não contada, um livro que não foi aberto em uma pessoa que está dormindo demais, que não quer mais trabalhar ou estudar, que está irritada brigando com todo mundo... ou até sorrindo, fazendo palhaçadas para esconder seu verdadeiro estado.

Obrigada por chegar até aqui. Agradeço de coração por você ter tido tanta paciência.

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