segunda-feira, 27 de setembro de 2021

O Jugo do Julgamento

 


Jugo é o mesmo que cangalha. Essa peça aí que está sobre os ombros dos bois e que serve para que eles andem juntos a uma certa distância sem se esbarrarem e estando alinhados na mesma direção. Ela é usada em carros de boi e também em arados não motorizados.

Não pode ser utilizada por animais de espécies diferentes. Por exemplo, não pode ser utilizada por um jumento e um boi, ou um camelo e um cavalo.
Como se pode notar, ela parece algo extremamente incômodo, mas é um pouco mais confortável se os animais forem da mesma espécie. Quem os guiará geralmente escolhe animais com a mesma altura, pesos semelhantes o que vai gerar uma força equilibrada em ambos os lados. Isso é algo fundamental, tanto para os amimais, quanto para o guia e para o próprio instrumento, seja o carro ou o arado, pois poupa o equipamento de receber uma carga mais excessiva de um lado que do outro, preservando as rodas, no caso do carro e arando a terra com uniformidade.
Bom, depois de toda essa explicação e falando de autoestima e relacionamentos interpessoais, resta claro que muitos julgamentos são jugos pesados e desconfortáveis. Isso, claro, quando eles são colocados com o peso todo de um lado só.
Vamos falar de quando alguém diz algo a respeito da nossa aparência, por exemplo.
Essa pessoa, na verdade, quando faz observações maldosas e até mesmo descuidadas sobre você, ela está se fazendo menor. E, por isso, você acaba carregando a carga sozinho, pois, se a criatura é mais baixa, obviamente que o jugo não pesará sobre ela, e sim sobre o que está acima.
E, se você aceita isso, leva mesmo. Não só o peso, mas os machucados que advirão disso.
Por isso, quando se trata de autoestima,(e não estou apenas falando de aparência, tá?), a gente, sim, aceita a cangalha e ainda anda com ela por toda a vida sem perceber!
Eu sei que até mesmo peso nos acostumamos a levar. E, algumas vezes, gostamos de nos sentir assim... e nos colocamos no papel de vítima sem perceber que o estamos fazendo.
Começamos a reclamar do nosso peso, das comorbidades que ele traz consigo, nos apegamos ao que os outros falam e, quando vemos, estamos repetindo os mesmos comportamentos... e até mesmo comportamentos que não gostaríamos que outros tivessem conosco.
A vida é uma cangalha. Agora, quem estará ao nosso lado para compartilhar esse caminhar, já é outra coisa. Quando ouvimos que não damos conta, quando nos deixamos levar pelo vitimismo, quando ouvimos que não somos como "eles" gostariam que fossemos, colocamos uma segunda cangalha sobre nossos ombros.
Isso é que não devemos permitir.
Deixei, por muito tempo, que o jugo dos outros pesasse sobre mim.
Palavras que doíam, pesavam em meu coração e que a mente repetia exaustivamente, me lembrando o tempo todo da ferida.
Uma sequência delas me doeu muito...
"Horrorosa, desbundada, ruim de cama, péssima dona de casa, uma porca imunda"... foi isso que ouvi. Essa sequência infame.
Hoje elas são lembranças que vêm à tona para ajudar outras mulheres a se libertar desse jugo.
VOCÊ NÃO É O QUE DIZEM SOBRE VOCÊ. VOCÊ É O QUE É, E DEVE APENAS REFLETIR A NATUREZA DE CRISTO. O QUE PASSAR DISSO VEM DA BOCA DO MALIGNO!
Ok, que você não seja cristão... mas, é nisso que eu creio e que vou levar comigo. Esse é o único fardo que eu aceito levar, que recebi e hoje trago a vocês: a leveza de ser existe!
Demorei para descobrir isso e já pedi perdão ao meu eu do passado por não entender como era linda e perfeita.
Hoje, fora dos padrões que eu mesma carregava, eu me amo mais que nunca. Hoje eu amo o que o espelho reflete.
E quando eu digo que amo, não quer dizer necessariamente que eu goste.
Heinnnnnn??? Como assim???
Sabe, quando amamos abraçamos o que não gostamos e somos mais gentis. Isso, inclusive, nos ajuda a melhorar, se preciso.
Eu preciso muito melhorar - quem não?
Desta forma, aqui, ao final deste longo texto, eu quero reafirmar meu compromisso de amor comigo mesma. De não deixar, na medida do possível, pois há dias em que escorregamos para o ralo da autocomiseração, que nada, nem ninguém afete a estima que tenho por mim mesma. Foi assim que comecei a ver os problemas alheios com um pouco mais de misericórdia e a entender que ninguém precisa ser como eu gostaria que fosse, mas que precisamos ser apenas como somos.
Vou dizer a vocês que não é fácil amar, principalmente a gente mesmo.
E isso é reflexo de muitos fatores, incluindo as nossas relações com a nossa criança ferida. Que precisa crescer e, para crescer, precisa curar suas dores e, para curar suas dores, precisa se amar...
O amor é um processo. Não nasce assim, de uma hora para a outra no meio do caminho. Ele vem, devagarinho...
Guimarães Rosa já dizia bem assim: "amor é um rato que sai do buraquinho. É um ratazão. É um tigre-leão!" 
Ele vem tímido, de repete, se mostra maior, e vira algo majestoso. Dentro da gente, por nós mesmos? Sim. Também.
Da mesma forma que só podemos ensinar a andar de bicicleta se soubermos o processo, só podemos amar se aprendemos a amar. E, novamente, só podemos amar os outros SE nos amarmos primeiro. Do contrário, qualquer manifestação de amor é hipocrisia. Ou uma tentativa torta de manifestar algo que eu não tenho, que não sou, que não sinto.

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