A mesma pena que empunho com tanta destreza, o mesmo pincel que o papel e a tela afaga, essa voz calada, surda e quieta, são as mesmas armas que cravam de dor essa minha mão direita.
Essa
destra que a letra derrama ao invés de lágrimas, essa mão que ri no lugar dos lábios,
essa mão que xinga ao invés da língua, esses dedos que beijam no lugar da minha
boca... que faz amor, que dança, que se admira e que o amor declara para os
olhos de quem quer e pode ler.
Há
um punhal em minha mão quando a tristeza me inunda.
Essa
dor fina, curta e latente que meu corpo todo sente na minha mão.
Um
mistério doloroso, infame e vil, decadente, destrutivo, corrosivo e cru.
Essa
minha mão que com amor o alimento prepara, que acarinha e que bate, que
demonstra sensualidade, carrega o anel e minhas muitas verdades.
Hoje,
essa mão, gostaria de percorrer um corpo nu, cravar as unhas nas costas de
tanto prazer.
Queria
também dar prazer acarinhando cada centímetro de hormônios, de cheiros... calar
a boca que geme nesse paraíso sexual que a natureza clama.
Mas,
essa mão sente os defeitos do corpo que a carrega. Os defeitos cerebrais por
quem ela, dolorosamente chora.
Essa mão sente
os efeitos dos padrões, os efeitos de um tempo que passou.
Aqui,
e nesse instante, ela junta letra a letra, para dizer que ela dói e que ela
sente um tempo que se foi e que lamenta um futuro que não sabe se será.
Essa
mão... que se junta à esquerda para esperar, que se contorce quando a angústia
vem, que as lágrimas seca e que toca os lábios para, pensativa, aquietar.
Essa
mão, à destra do que sinto, penso e vivo, essa mão destra que embala os sonhos
que ainda vivo.
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