domingo, 31 de maio de 2020

Vou mais leve...

Eu não estou cansada...
Eu ficava cansada quando estava no auge da depressão. Não havia forças para levantar da cama todos os dias. Apenas motivação: minha filha. Afinal, ela precisava ir para a escola. Ela precisava ser alimentada. Precisava de uma mãe que cuidasse dos interesses dela. Precisava de alguém que acompanhasse as tarefas de casa. 
Mas, eu estava cansada! Nem falo do corpo. Esse ainda se cansa, mas é físico e eu resolvo. Resolvo quando a mão, o braço,o ombro e o pescoço doem ao escrever poucas palavras. Simples assim: paro. Depois, continuo. Cansa quando eu caminho alguns passos... doem os músculos da coxa, aqui, perto da cabeça do fêmur. Eu continuo. Mas, quando foi demais, respiro fundo e, se precisar, paro.
Mas, agora não estou cansada. E eu digo aquele cansaço de não dar forças para tomar banho. Escovar os dentes. Querer arrumar o cabelo. 
Mas, né? A gente ainda vai fazendo essas coisas, porque não vive só. Tem uma filha. E você é o exemplo. Afinal, sou a mãe, tenho de ser forte. Por ela. 
Eu não estou mais cansada. Nem de longe! Gosto agora de arrumar minha casinha, de fazer comidinha, de levantar - mesmo no meio dessa pandemia - e me arrumar. Colocar uma roupa bacaninha, mais arrumadinha, mas confortável para ficar em casa. Lavar a roupa, arrumar os armários, ir para o escritório e ler algo, assistir a um filme ou até mesmo participar de uma reunião. Fazer um curso à distância... 
Eu não estou cansada, não. Aproveito o tempo em que minha filha não está na escola para admirar sua beleza e, às vezes, até dar bronca para ela fazer atividades da escola. Mas,  entendo quando ela acha muito chato, pois é uma menina muito sociável.
Mas, de vez em quando, eu me canso... e cansei! 
Cansei de ver noticiários e ver todo mundo atacando todo mundo. É gado, é boiada, é palavrão, é gente daqui e dali se matando em ódio coletivo que se alastra mais que o vírus que, eu achava, já era mortal o suficiente.
E aí, eu tenho de pensar nos que são grupo de risco, nos que não são, nos que precisam trabalhar, pois não têm o que comer, preciso ficar atenta ao modo como pego na bendita  máscara, no modo como toco na porta do carro internamente, passar álcool 70% até na alma e ainda ficar louca porque o presidente falou ou disse algo, porque o STF resolveu ignorar a constituição que ele mesmo diz defender, que o Congresso está cheio do estrume da vergonha de uma nação representada...
E aí, eu me cansei! Cansei, e só assito ao jornal local por puro senso de praticidade - preciso, afinal, saber um mínimo sobre o pequeno quadradinho demarcado por Cruls e que chamo de lar.
Cansei! Poxa, tanta coisa mais importante acontecendo e todo mundo ficando maluco. O mundo enlouqueceu! E eu que pensava que não precisava mais ver o racismo ser filmado, fotografado, divulgado e documentado porque achei que nesse ponto da evolução humana já teríamos, como espécie animal, finalmente descoberto que somos todos iguais. Mas, não! Não somos, ao que parece! Meu Deus!, eu pensei, será que ainda temos jeito?
Sem contar que ainda vemos e vivenciamos as perdas de pessoas que amamos sem poder dar abraços, vivenciamos absurdos sendo cometidos com pessoas vulneráveis dentro de um hospital onde deveriam estar sendo bem cuidadas...
Esses meses estão sendo muito intensos. E aí eu cansei!
Mas, agora, não estou mais cansada, não. 
Porque, no meio no caminho inteiro eu tenho meu Jesus! No caminho Ele nos presenteia com pessoas maravilhosas que têm condições para ajudar a levantar seus iguais. No meio do caminho, a gente vê a justiça se levantar, de uma forma ou de outra. No meio do caminho, a gente observa dias mais lindos, pode aproveitar cada mínimo canto do que a gente chama de lar. Pode abraçar mais vezes quem a gente ama, aconchegar sem pressa e com exceço de ternura nossos filhos. 
Não estou cansada. Pois, entendi que as dores a perda de quem amamos podem até não passar, mas a saudade pode cobri-la como um cobertor quentinho de amor.
Entendi que eu tenho a força das orações silenciosas que faço o tempo todo,  sejam elas de súplicas, sejam elas de louvor, adoração e gratidão a Deus, pois a mim não pertence a justiça, muito menos a desse mundo.
Não estou cansada, porque entendi que, ou eu creio que Ele tem o controle de tudo e sabe o que faz, ou então, eu simplesmente jogo meu desespero para o mundo e espero um fim, sem esperança alguma de que algo faça um sentido. E uma história sem sentido no final, não é para mim.
Não estou cansada. Porque ganhei de presente o que eu mais queria: ficar na minha casa! Tiro tanta força daqui!
Há um descanso em meu coração e uma paz que nem eu mesma posso entender. 
Não estou cansada... E desconfio que sei o motivo. Eu acho que, finalmente, aprendi o que é ir ao meu Jesus, eu, que era tão cansada e sobrecarregada, para que Ele me alivie. E Ele me dá o jugo e o fardo da Graça. Essa, sim, é leve e dá descanso.

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