segunda-feira, 8 de junho de 2020

Tempus Fugit

Tempos atrás eu assisti ao meu primeiro dorama. Oi? Não sabe o que é? Pois, vou lhe explicar: São assim chamados os dramas orientais, porque eles, em tese, não conseguem falar o fonema formado pelo encontro consonantal "DR". Então, aqui no Brasil, os fãs - predominantemente mulheres - começaram a chamar essas novelas ou, no modo contemporâneo de dizer, séries de doramas e eu me apaixonei! 
Gente, sem mentira, os orientais mandam muito bem nas histórias!
Seja o dorama contemporâneo, histórico ou histórico-fantástico, ele tem um charme só dele!
Bom, o nome do dorama é Oh, My Venus! Lindinho demais e recomendo. É a história de uma moça que era linda, magra, animada e super cobiçada por todos os rapazes. Um deles, um atleta de ponta da natação coreana, apaixona-se por ela e, enfim, consegue conquistá-la. Chamou a minha atenção, algo que ele lhe disse: "você é o meu primeiro amor e vai ser para sempre." 
Na história, muitos anos se passam. Ela estuda direito, ele se torna campeão olímpico e vai trabalhar em um conglomerado médico que possui o mais modernos hospitais e investe em pesquisa de ponta... Mas, durante esses muitos anos, ela engorda. O namoro esfria. E ela espera que ele proponha o noivado. No dia em que ela espera por isso, ele termina tudo e ela descobre que ele está namorando uma mulher que eles já conheciam desde adolescentes e que, no passado, era muito gorda, desajeitada, e tímida. Enfim, não vou contar todo enredo aqui porque acho que vale a pena você assistir. De verdade. É leve, é engraçado, é romântico... sobretudo, é envolvente!
Mas, queria versar um pouco sobre as primeiras coisas que fazemos na vida.
Eu sempre fui apegada ao instante em que as coisas acontecem: o momento em que os postes se acendem  na rua. O canto do primeiro pássaro de manhãzinha, quando o primeiro raio de sol, timidamente, dá o sinal de que vai surgir no horizonte. O instante em que você já não houve mais nem um passarinho cantar, anunciando que a noite chega.
Como mãe,  eu passei a valorizar ainda mais essas instantes e, sobretudo, as primeiras vezes em que algo acontece. A primeira ultrassonografia... deu pra contar todos os dedinhos de Sofia! A primeira vez que eu a senti mexer na minha barriga parecendo asas de uma borboleta batendo dentro de mim. A primeira vez que a senti soluçar dentro de mim - que agonia! A primeira contração mais forte. O primeiro choro. A primeira mamada. O primeiro banho. O primeiro sorriso. A primeira febre. A primeira vez que rolou, se arrastou, engatinhou, o primeiro passo. O primeiro dia na escola, o primeiro desenho, o primeiro dentinho que caiu. A primeira palavra... 
Ah! O milagre de uma vida se desenvolvendo! E os primeiros tudo!
É assim que uma vida se constrói!
Eu ainda me lembro de algumas coisas minhas. A primeira vez que andei de bicicleta... Minha bicicleta era vermelha, uma Cecizinha que ganhei de natal . Meu pai me ensinou na faixa verde  lá de casa. 
O meu primeiro beijo - a partir de agora, conto o milagre, mas não o santo! Hehehehehehe - o primeiro namorado... e por aí vai. 
Mas o que quero dizer aqui, nessas linhas que começaram a se delinear lá na Coreia do Sul, é que a gente tem o péssimo costume ocidental de, no correr da vida, esquecer de que ela é todinha feita desses primeiros momentos. Tudo o que a gente faz, mesmo que já pense ter feito milhares de vezes igual, nunca é igual! 
Quem foi que disse que um homem que mergulha em um rio, quando sai, nem o rio é o mesmo rio, nem o homem é o mesmo homem?  Porque o segundo que passa, já não é mais quando o outro vem! 
Clarice Lispector, em Água Viva, diz: "Eu te digo: estou tentando captar a quarta dimensão do instante-já que de tão fugidio não é mais porque agora tornou-se um novo instante-já que também não é mais. Cada coisa tem um instante em que ela é."
Pois então! O que me prende aos instantes é, justamente, que ele escorre por entre os meu dedos e, quando vejo, ele já não existe e se tornou passado... daqui pra frente é só o incerto e fica eternizado em um presente que só o é na memória de quem viveu, petrificado como estátuas de um museu  de lembranças só minhas. 
Feitos do jeito que eu vi, que eu percebi, atormentados ou alegres dos meus tormentos, das minhas dores ou das minhas alegrias e do sublime que é um ser.
E aí, meu convite a você é: já visitou suas memórias Hoje? Quais os instantes você tem para lembrar? Quantos são os que você tem fabricado? Quantos você tem feito com o propósito supremo de guardar, com amor, no salão mais nobre desse museu - o coração?
A cada passo que dou dentro de mim, tenho muitas histórias pra contar... algumas dolorosas, outras neutras, a maioria muito feliz! 
E a tudo o que foi instante e primeiro, o agradecimento por fazer parte do acervo que construiu minha história até aqui! 
E a todos os instante que se sucederem daqui pra frente, eu digo: estou indo lhe fazer ser vida, do mesmo jeito como diz um escultor ao mármore, que lhe fará aquilo que lhe diz para ser. 
E como o rapaz que disse para heroína da novela que ela era o seu instante que possamos, como Clarice, nos apossar do é da coisa. Porque, daqui a um segundo, o é... já não é mais.

Faxina!

Tenho a sensação de que, de uns tempos para cá, minha vida está sendo colocada em uma esfera pequenina... Eu fico pensando que, de tão pequ...