Aproveitando o ensejo, e que agora meu universo é permeado da presença inefável de uma linda criança... Me bateu uma saudade. Novamente a saudade!!! Olha ela aí, sempre tão presente em mim.
Acredito que é um modo de poder voltar um tempo, o que, fisicamente, ainda é impossível a meros mortais como eu.
Lendo a postagem anterior sobre a minha infância dos anos 80/90, eu me lembro de um tempo em que conseguia catar tantos vagalumes num breu sem fim, tanto na fazenda do meu avô, quanto depois, no sítio da minha família.
Lembro que o vidro ficava bem lotado deles e de minha mãe dizendo: Para de catar tanto vaga-lume, coitados!!! E furávamos a tampa da lata para os pobres coitados respirarem...
E os tatus-bolinha? Ah, que gracinha!!! Era tão boa a sensação de vê-los se enrolar ao nosso toque. Minhocas, então, pareciam sair da terra só para ver a carinha da gente.
Então, dia desses, parando para lembrar de fatos tão saudosos que moram lá na minha infância eu me peguei com uma saudade imensa de certas coisas.
Como, por exemplo de jambo do cerrado... Outro dia tinha alguns na fruteira da casa da minha mãe! Engraçado que, quando eu era criança eu achava que eles eram bem maiores. Enchiam a minha mãozinha e eu comia achando tão bom. No caminho da bica d'água da fazenda do meu avô eu lembro que havia um pé de jambo e era obrigatório parar e comer alguns quando tinha frutos maduros no pé. E, até hoje, para mim jambo tem gosto e cheiro de beira de rio, da bica d'água da fazenda do meu avô.
Aliás, aquele era um lugar de muitas boas lembranças. Eu era bem pequena, é verdade, mas algumas coisas me vêem à mente de modo tão bom... Ou nem tanto! Era lá que eu tinha de ver minha avó matando galinhas e meu vô matando boi para vender - ele era açougueiro!!!
Era o lugar onde meu avô tinha também uma horta. Que, na minha dimensão de criança, era enooooooooorme, pareciam muitos e muitos hectares de alfaces, cenouras, repolhos, rabanetes, coentro, etc, etc, etc. E amo a lembrança do meu avô tirando a cenoura da terra e lavando no reguinho que passava junto à horta. Como era doce e perfumada cada cenoura que ele me dava!
Também me lembro da barragem perto da casa e também dos pés de jabuticaba... Já comi muita jabuticaba no pé! E também muita manga, muita jaca... Muito doce de leite feito no fogão à lenha... Requeijão caipira e a raspinha da panela que ficava depois rendia uma farofa das mais divinésimas do mundo inteiro!!!
A casa dos meus avós paternos não ficava atrás em atrativos... Os melhores eram os primos... E, claro, meus avós!!! Sempre tão doces e gentis. Minha linda avó trazendo em uma bacia ou em uma lata de mantimentos petas e pães de queijo feitos com todo o carinho para nós. E o melhor doce de abóbora do planeta e o melhor doce de leite talhado que já comi. Nunca mais vou sentir aqueles sabores e isso me dá um pouco de tristeza... Ela já conta seus 94 anos e está com muitas saudades de seu companheiro de mais de 70 aos de convivência que se foi e agora tem esperado pelo momento do reencontro.
Bom, os primos são um capítulo à parte na minha vida. Quantas brincadeiras!!! Na casa da vó o quintal com goiabeiras, mangueiras e com o famoso - pelo menos para mim - pé de fava... Eu me impressionava com aquela faveira. Foi meu tio que plantou!!!
E brincávamos demais... Até a hora de ir embora! Pique-pega, pique-esconde, conversávamos, mexíamos em tudo e gostávamos de experimentar a cadeira de refeições do meu tio que tem rodinhas porque ele é portador de necessidades especiais.
E tinha as minhas tias, também um capítulo à parte para mim. Gostava demais de estar entre os adultos também.
Mas, voltando ao ar livre, hoje acho que há seres que só habitam o mundo infantil... Tipo as joaninhas. Outro dia até que vi uma. Peguei-a, coloquei-a cuidadosamente em um pequeno vidrinho sobre o piano e fiquei esperando minha filhinha acordar para lhe mostrar. Quando fui pegá-la, cadê a bichinha? Sumiu, como todo ser encantado faz. Só aparece quando quer e para quem quer! Hehehehehehe!!!
Ah, quando eu penso que joaninhas, tatus-bolinhas, vaga-lumes, grilos cantores e cigarras estão desaparecendo, eu prefiro pensar que eles só habitam o universo infantil e que dia desses minha filha vai ter a sorte de ver muitos deles por aí. Ilusão... Mas, prefiro assim. Faz com que eu me sinta melhor.
Alguns doces prazeres que ainda consigo dar a ela, como ficar descalça e sem roupinhas ao sol. Regar as plantinhas com um regador só dela, pisar a grama sem calçado, areia, mexer com terra, molhar os pezinhos...
Não há a casa do avô na fazenda e nem a casa do outro avô distante para passar os fins de semana. Todos moram perto e na cidade o que diminui um pouco as chances de achar os seres mágicos.
Sei que o amor é o que importa. Sei que as risadas, o fato de estarmos sempre juntos e as brincadeiras é que importam. Mas, também eu sei que o que eu desfrutei é sem palavras...
O queijo fresco, os doces caseiros, o pão de queijo, as petas, os cavalos, bois, vacas, bezerros, carneiros... O jambo, a bica, o córrego tão verde e frio... Eu criança não sentia o frio daquela água do sítio do meu pai... E jamais senti medo de enroscar o pé numa cobra no meio do mato...
Simplesmente gostava dos cheiros, das cores, da diversão, do amor dos meus. Simplesmente gostava do encantamento dos vaga-lumes, das joaninhas, dos tatus-bolinha... Simplesmente as frutas eram mais doces quando colhidas e devoradas no pé. Simplesmente o doce de abóbora era mais gostoso na casa da vó...
Simplesmente eu achava a bica d'água algo tão grande e tremendo que não poderia jamais deixar de estar lá para tomar banho...
Tudo era simples... Taí... Talvez a gente, quando cresce vai perdendo a simplicidade para enxergar algumas coisas tão boas da vida. Penso que nossa trajetória nos faz distanciar de um pouco de nós mesmos. Relembrar é trazer de volta a minha simplicidade de criança e a alegria de experimentar tudo pela primeira vez. É também devolver para mim o encantamento com pequeninas coisas e trazer de volta a imaginação fértil e delicada... Mesmo assim, os seres tão abundantes na minha infância não me aparecem mais.
Resta a mim o consolo de ter visto ao menos uma joaninha quando adulta... Vermelhinha e cheia de bolinhas pretinhas... Mas, a joaninha se foi, como o tempo que já passou.
Feliz dia das crianças a vocês cuja criança voltou para lhes buscar a lugares que antes já visitou... Mas, volte para contar!!! Se vir um bichinho desses por aí, diz que a menina que eu fui, sou e sempre serei mandou lembranças!