Eu tenho vivido estes últimos 2 anos tentando ser algo além de uma coisa só... Explico. É que eu era mulher, meio menina, profissional, namorada - depois esposa - filha... E aí, de repente, eu me tornei mãe e nada mais.
No último dia 08 eu fui submetida a uma cirurgia de retirada da vesícula e o fechamento de uma hérnia umbilical, e resulta que dona Sofia teve de ir de mala e cuia para a casa da vovó Lenice porque a mamãe aqui não pode pegar peso.
Pensem numa saudade indescritível... Um vazio dentro de casa, um vazio nos meus braços, um vazio no meu dia - que é inteiro dela - um vazio de sons, de bagunças, de brigas, de carinhos, de abraços e beijinhos e cheirinhos...
E aí eu me pego chorando em bicas porque minha pequena não está pertinho de mim. Nunca havíamos passado mais que um dia longe, e aí tenho de fazer essa bendita intervenção.
Como eu me arrependi - até parece que podia...
E daí que eu me peguei pensando que depois que a vida me deu esse presente eu não tenho mais alternativas a não ser ser mãe.
Andei meio em crise, um pouco triste, me sentindo tão pouco mulher e tão mãe... E meu corpo também me pregou essa peça. E, mãe depois dos trinta, não correspondeu às minhas expectativas. Também o cotidiano tão cheio de tarefas e de cuidados com minha pequena, me deram a certeza de que eu havia diminuído minha cota de ser só Gabrielle...
Só que eu não sabia que depois que se tem um filho você realmente não pode ser mais nada além de mãe. E é uma mãe que é mulher, uma mãe que é esposa, uma mãe que é profissional.
Sou mãe... A distância da minha linda me fez perceber isto.
Depois que ela nasceu não há mais como ela sair de mim. Nosso pensamento como pais é dela. A vida passa a ser para ela. Nossos esforços são para garantir a sobrevivência e o futuro de nossa filha, porque o que a faz feliz também nos faz e todas as dores dela certamente são maximizados em nossos corações.
Nem posso descrever a dor que é a falta do meu bebê aqui em casa, embora eu saiba que ela está ótima e muito feliz fazendo tudo o que quer na casa dos avós, passeando, andando para todos os lados, tomando sol no gramado...
Mesmo assim, eu quero é minha pequena em casa.
Sei que ainda preciso fazer com que a mãe que é mulher aflore mais fortemente. Estou precisando disso.
Preciso sentir também que tenho um espaço para mim mesma a não ser para a filha, para o marido, para a casa, para o trabalho.
Sei que isto é necessário porque não estamos criando nossa filha para nós mesmos, e sim para ser uma pessoa independente, feliz e bem sucedida e que um dia vai deixar a nossa casa para ter sua própria vida. E eu não gostaria que eu me sentisse como se eu tivesse um oco dentro de mim.
Quero sentir que fiz um bom trabalho. E que os nãos que eu lhe disse, as lições que lhe ensinei, as brincadeiras que brincamos e os abraços e beijinhos que lhe demos façam uma pessoa de bem. E, no fim das contas, que ela diga que é muito feliz porque teve e terá muito amor na vida.
Eu me esforço muito para que ela sinta que há muito amor neste lar. Porque há mesmo. Há harmonia, há consenso, há alegria...
E, com a sensação de dever cumprido, eu e meu amado podermos andar de mãos dadas por aí, e conversarmos, além de Sofia, a respeito de nós mesmos e da vida. Até o dia em que Deus nos chamar...
E assim, eu me pego novamente na minha briga interior mãemulhermãe. Mesmo assim, estou feliz por ser algo mais que uma coisa só. Pois, no fim das contas, sabe de uma coisa? Ser mulher é assim mesmo: Ser múltipla em uma só.